Grito dos Excluídos da América Latina e do Caribe
''Somos todos passageiros da mesma nave espacial chamada planeta Terra. No entanto, como nas caravelas dos colonizadores e nos aviões transatlânticos, viajamos em condições desiguais. Uma minoria usufrui, na primeira classe, de tecnologia de ponta, como a Internet, de alimentação saudável, de medicina sofisticada e de acesso à cultura. A maioria 85% da população mundial amontoa-se em porões insalubres, ameaçada pela fome, pelas doenças e pela violência.
Nosso grito ergue-se contra a globalização que, ao favorecer os poucos países metropolitanos, em detrimento das nações pobres, revela o seu caráter de verdadeira globocolonização. O PIB mundial, calculado hoje em US$ 25 trilhões, é o retrato da brutal acumulação da riqueza em mãos de poucos: os países do G-7 (EUA, Canadá, Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Japão) detêm US$ 18 trilhões. Os US$ 7 trilhões que restam devem ser repartidos entre mais de 240 países!
Clama aos céus constatar que apenas três cidadãos norte-americanos Bill Gates, Paul Allen e Warren Buffett possuem, juntos, uma fortuna superior ao PIB de 42 nações pobres, nas quais vivem 600 milhões de habitantes!
Hoje, na América Latina e no Caribe, há 224 milhões de pobres e 90 milhões de miseráveis. São 192 milhões de crianças, das quais a morte atinge, a cada ano, quase 500 mil, afetadas por doenças preveníveis. Cerca de 14 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade sofrem deficiência de vitamina A. Cerca de 20 milhões de crianças menores de 15 anos de idade trabalham na América Latina e no Caribe. Muitas abandonam a escola para ajudar no orçamento familiar, enquanto outras assumem riscos de vida em suas atividades profissionais.
Quase 2 milhões de latino-americanos e caribenhos estão contaminados pelo vírus HIV. Nas escolas de ensino fundamental, a taxa média de repetência é de 30%, sem contar que amplas camadas da população ainda são analfabetas. Essa situação agrava-se pelo analfabetismo virtual, por não saberem lidar com os novos equipamentos eletrônicos.
Nosso grito é de protesto contra a economia neoliberal que, monitorada pelo FMI e pelo Banco Mundial, reduz a democracia ao mercado, a cidadania ao consumismo, e viola a soberania de nossos Estados nacionais através da privatização de nossas empresas estatais e públicas. Em 1999, o desemprego elevou-se a 8,7% em nosso Continente, a taxa mais alta da década, enquanto o salário real na indústria caiu, segundo a OIT, 0,9% no primeiro semestre de 1999, frente a igual período no ano anterior.
Globaliza-se a pobreza e não o progresso; a dependência e não a independência; a competitividade e não a solidariedade. Enquanto isso, as nações ricas investem em tropas e armas, anualmente, US$ 800 bilhões!''